Após alguns ensaios - este espaço renasceu! Esta será a noxa nova casa migox e colegas... sejam Bem-Vindos

Tuesday, February 13

À procura dum significado

Passei a manhã em busca interior por um presente que evidenciasse o significado dum sentimento agudo de afecto perante outra pessoa, costumam designar este estado de 'amor', mas como nunca encontrei dois significados coerentes acerca desta palavra tenho receio e vergonha de o aplicar. Fiz de tudo por o tentar materializar mentalmente para após a aquisição o poder embrulhar orgulhosamente e oferecê-lo, mas, ao contrário do que pensei ser possível, tal materialização nunca me ocorreu. Até que tive a brilhante ideia de o procurar no meu baú de recordações, porque, como sabemos, a forma como descrevemos os sentimentos que nos ocorrem pela primeira vez, pelo facto de ser ingénua, aproxima-se do verdadeiro, e, por isso, encontra-se despida de outras percepções e influências exteriores que vamos adquirindo progressivamente. Em nada resultou, tudo o que encontrei foram frases sentidas nas minhas vivências mas que, para além, de não serem expressivas na forma como foram abordadas, também não conotam qualquer tipo de sentimento semelhante ao que sinto agora. Fui demasiado estúpido, por pensar que por instantes poderei ter vivido algum vestígio daquilo que sinto agora! Mas, não me dei por derrotado, porque tinha percebido inequivocamente que aquilo a que chamam 'amor' é um sentimento único, porque o que se sente num instante, nunca mais se recuperará, porque um próximo instante enche-se de um novo sentimento. Logo o amor é infinitamente polissémico.

Senti o mundo mover-se por baixo de mim, como poderia encontrar um significado para uma palavra com estas características, pior!, apercebi-me, ao olhar novamente para o bau, que as cartas, livros e brinquedos que talharam parte da minha personalidade não tinham nada de ridículo e vestiam-se de sentimentos nostálgicos e de complacência em relação ao que vivi outrora. Era agora, portanto, confrontado com uma nova questão, não existe um significado fixo para definir 'amor' num dado instante, porque a forma como penso sobre o que senti não me revela o que senti, apenas uma mistura disfusa de recordações, que não foram os meus sentimentos porque são misteriosamente enganados pelo meu desejo egoísta de os reproduzir e pelo que, indubitavelmente, estou a sentir quando os reproduzo. Tenho a certeza que, enquanto, crianças não nos sentimos angustiados com a construção duma casa Lego, por pensarmos, que esse momento poderá não se encher da mesma magia futuramente.

Sentei-me no sofá poeirento, estava esmagado - percebi que a estes dois problemas, na manifestação do sentimento, juntava-se um terceiro - o de que o 'amor' se manifesta a diferentes níveis, ou seja, é diversificado e depende, entre outros, do receptor. Este poderá ser uma pessoa, um animal, um pinhal de areia gélida à beira-mar ou até uma peça Lego, pode ser uma entidade individual ou colectiva, abstracta ou concreta... posso amar tudo e nada, mas a cada coisa corresponde um diferente amar. Depressa resolvi na minha mente a dependência em relação ao primeiro problema, o de que posso num dado instante amar vários destinatários, cada um de diferentes formas. Ao receber um presente num embrulho escrupuloso e cuidado, amo a entidade que mo deu pela saudação entusiástica, sem deixar de amar complacentemente o autor do embrulho.



Mas o 'amor' que sinto quando a tua imagem se revela é, egoisticamente, só para ti. É tão puro e verdadeiro que ardem, de forma clara e límpida, em recordações, as vivências que partilhámos. E está desprovido de instantes, porque a sua riqueza e perfeição deriva em unicidade. Falho!, não te comprei nenhuma peça única que seja digna deste sentimento, mas anexado ao meu ser ofereço-te esta carta - uma descoberta, na qual a tua entidade está também implicada, a da revelação do significado do vocábulo 'amor': aliado da nossa evolução, é nas coisas temporal, polissémico, degenerativo e composto, e em ti se volve gradualmente em intemporalidade e singularidade, só em ti é perene e uno.
Despejo o meu baú de recordações de infância, enquanto o cubro de saudade tua.

1 Comments:

Blogger António said...

:|:|:|

N sei o que comentar...
A forma de escreveres e ...n sei...
Parabens..;)

11:37 PM, February 25, 2007

 

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